Black metal hipster é do caralho e vamos te provar isso com cinco bandas fodas
O ódio contra as bandas de black metal que querem fazer algo além da velha fórmula raw de blast-beats, vocais rasgados e riffs secos ressurgiu com força em 2015. A situação piora ainda mais quando quem tenta fazer coisas diferentes tem cabelo curto, usa roupa social, tem projetos musicais mais mainstream ou não tem um pênis.
Se
você é leitor assíduo do Scream Blog Gore, sabe que aprovamos todo tipo de
ousadia musical e que abominamos a trveza excessiva. Se você for um trve, aqui
estão cinco bandas para tentar te convencer que black metal pode ser
avant-garde, progressivo, psicodélico, ter influências de post-rock, shoegaze
ou world music e ainda assim ser muito bom e barulhento. Corpse paint também
fica legal em hipsters, juro!
Quando possível, colocamos um link para a página do Spotify referente às faixas, bandas e álbuns mencionados. É só dar um clique para começar a ouvir. V'ambora:
Solefald
Eles
têm um nome trevoso. Eles são noruegueses. Eles fazem umas capas que parecem
meio vikings. A grande maioria das músicas deles tem nomes com aquelas letras
estranhas e riscadas das linguagens nórdicas. Eles poderiam ser um exemplo de
banda trve. Mas espere!
Nos
álbuns do Solefald, você nunca vai encontrar apenas bate-estaca, riffs gélidos e
misantropia. As composições sempre apresentam algum elemento estranho, que às
vezes soam completamente aliens – e isso
acontecia já nos discos mais antigos, quanto todo esse papo sobre black metal
descolado e alternativo não existia e o Neige era apenas um moleque que tirava
fotos na floresta e tocava bateria para o Peste Noire.
No
lançamento de 2015, World Music, o Solefald parece ter abandonado qualquer
aspiração à banda kvlt e abraçou um som que é doido e destruidor na mesma
proporção. A faixa Bububu Bad Beuys, por
exemplo, pode ser a maior maluquice
já gravada nas geladas terras do norte desde a formação do Arcturus.
Entretanto,
os ouvintes que procuram algo mais cru – mais ainda assim bastante hipster –
podem ficar com o álbum de 2010, Norrøn Livskunst, cujas letras são,
majoritariamente, em norueguês. Hail
satan!
Gênero:
avant-garde electronic progressive world-music pagan black metal
Liturgy
Talvez
a banda que mais desperte ódio e rancor nos corações mortos e frios dos
black-metallers seja o Deafheaven. Oras, como podem uns moleques de cabelo
curtinho e roupa social fazerem uma barulheira daquelas?
Pois
bem, antes do Deafheaven desafiar a hegemonia dos cabeludos de preto no reino
de satã, uma banda já fazia um som parecido – e com direito a uma cruz
invertida na capa do segundo disco. E eles ainda mantêm a velha tradição dos
cabelos compridos (mas não de um jeito kvlt).
Aliás,
esse segundo disco, chamado Aesthetica, é um negócio lindo. O álbum começa com
uns barulhinhos estranhos que já denunciam que a banda se afastou do caminho do
mal, mas a barulheira que se segue é capaz de fazer o mais trve dos trves esquecer
que está ouvindo algo eminentemente poser. O som tem uma pegada ambient? Tem.
Tem uns timbres que não pertencem ao universo dos riffs crus e invernais? Tem.
Tem uns coraizinhos malucos na introdução das faixas? Tem. Mas é extremo pra
caralho!
ArkWork, de 2015, é mais leve, tem vocais que chegam a ser etéreos e uns flertes
mais intensos com música eletrônica, shoegaze e post-rock. Além disso, o single
do álbum se chama Quetzacoalt, um antigo deus asteca. Como sabemos, as únicas
referências divinas permitidas no black metal são o panteão nórdico ou alguma
coisa que envolva blasfêmia e mijar na cruz. Guerreiros do metal negro, fiquem
longe!
Gênero: experimental atmospheric
black metal com barulhinhos estranhos e uns corais
Ulver
Era
o ano do senhor de 1995. Nos invernos anteriores, black metallers haviam
queimado quase 50 igrejas na Noruega. O Mayhem lançava o infame Dawn of The
Black Hearts, bootleg que tinha a cabeça desfigurada e os miolos do Dead na
arte da capa. Varg Vikernes já cumprira o primeiro ano de cadeia, condenado por
matar Euronymous, seu antigo colega de banda, com 23 facadas em várias partes
do corpo.
O
reino de terror do black metal era forte, na época. Das geladas charnecas norueguesas,
surgiu uma horda que prometia continuar esse legado de destruição e
anti-cristianismo. O Ulver já havia gravado algumas demo tapes bem extremas, mas ninguém estava preparado para o que
viria com Bergtatt, disco de estreia
do grupo: o primeiro riff de blackgaze da história, uma década antes do Alcest
resolver imitar My Bloody Valentine.
Sim!
Por mais que a capa do álbum mostre uma floresta boreal iluminada pela lua de
inverno, digo com certa convicção que modinha do black metal hipster
começou com Bergtatt. Mais especificamente, com a primeira faixa do trabalho: I Troldskog faren vild.
Depois
de lançar mais alguns discos que, sob todos os aspectos, passavam (raspando,
mas passavam) nos testes de trveza, o Ulver percebeu que esse negócio de Satanás,
Odin, e roupa preta não estava com nada. O grupo resolveu tocar música
eletrônica noir e, em alguns
momentos, sexy. Na década atual,
costumam gravar canções ao vivo em casas de ópera com arquitetura pós-moderna.
Gênero: norweggian ‘90s post-black metal/blackgaze
Myrkur
A
mais nova façanha dos verdadeiros fãs de black metal foi ameaçar uma mulher dinamarquesa
de morte pelas redes sociais. Mas o que essa infiel fez para merecer tanto
desprezo, afinal? Nada demais: só gravou um disco excelente, que está entre os
melhores de 2015, mas não segue a Lei Norueguesa da Trveza de 1993 (entenderam
a referência àquela lei alemã sobre cervejas? Hein? Hein?).
A
compositora responsável pelo álbum M,
que teve a participação de um guitarrista do Mayhem (existe algo mais trve que
o Mayhem?) e foi produzido por Garm, do Ulver, se chama Amalie Bruun. Quando
não está tocando untrve black metal, ela se ocupa com o Ex-Cops, um grupo de
indie-pop dançante e adolescente, e com uma carreira solo de sonoridade também
bastante mainstream.
Em M,
porém, a dinamarquesa mostra influências de vários sub-gêneros do black metal – de vez
em quando, aparecem até mesmo uns riffs meio thrash. Provavelmente, o que
irritou os “tradicionalistas” foi a voz suave, quase lírica, de Amalie, além de
uma veia bastante post-rock/shoegaze.
Ah!
E não podemos esquecer que ela é mulher, né? Queimar igrejas, assassinar rivais
e formar círculos satânicos secretos não são coisas para moçoilas. Menininhas
não sobreviveriam nas florestas geladas. Melhor deixar isso para os homens, afinal,
como já decretaram alguns sabichões da internet, Myrkur usa Amalie apenas para
se promover – mesmo que ela seja responsável por todas as letras e composições e que todos os outros músicos sejam apenas convidados ou contratados.
Gênero:
female-fronted post-ambient black metal
Sigh
Black
metal com jazz experimental, solos virtuosos, teclados com um ar psicodélico e
passagens orquestrais: Sigh é um som tão bizarro que só poderia ter vindo de um
país no mundo, o Japão. O projeto começou como uma brincadeira de colegas de
escola, mas se tornou uma referência para quem curte gororobas sonoras
barulhentas.
Em
alguns momentos, é até difícil apontar onde está o black metal na sonoridade da
banda, diante de tantas influências e instrumentos que disparam em arroubos
simultâneos de virtuosidade. Entretanto, debaixo das várias camadas de lisergia
e sintetizadores, sempre há certa maldade e tosquência que tiram qualquer
dúvida sobre a procedência satânica da música.
A
banda lançou um álbum em 2015, o Graveward, que, na real, não é tão bom como os
anteriores, apesar de ser um dos mais malucos. Imaginary Sonicscape, de 2001, e
Gallows Gallery, de 2005, são os melhores trabalhos dos japoneses –
especialmente porque esse último tem uma produção tão tosca, mas tão tosca, que
os músicos tiveram que inventar a lorota de que gravaram as canções com técnicas
empregadas na 2° Guerra Mundial para não levarem bomba na crítica
especializada. O impressionante é que a mentira colou por alguns anos, antes da
banda assumir que era só história para boi dormir.
Gênero:
avant-garde psychedelic progressive jazz black metal
Black metal hipster é do caralho e vamos te provar isso com cinco bandas fodas
Reviewed by Rodrigo Menegat
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03:47
Rating:
Só banda foda, eu amo vocês.
ResponderExcluirHermes, amor é proibido aqui. Só vale ódio e misantropia.
ResponderExcluirHahahahaha, espero que risadas sejam permitidas
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