Type O Negative - Discografia comentada

Peter Thomas Ratajczyk, futuramente conhecido como Peter Steele, nasceu em uma família pobre, bastante religiosa e grande, com outras cinco irmãs mais velhas. Sua herança familiar vinha desde a cultura eslava, da parte de seu pai, e incluía parentes escoceses, noruegueses e islandeses, por parte de mãe. O músico teve diversos problemas com depressão, uso de drogas e constantes conflitos ideológicos ao longo da vida, que contribuíram muito para a criação de suas músicas, em especial do Type O Negative.

Entre 1979 e 1987, Peter fundou as bandas Fallout e Carnivore, que faziam um som mais próximo do HC e do Thrash Metal, com letras ácidas e recheadas de críticas referentes à religião e política. Em 1989, junto com amigos de infância, montou o TON, banda mais expoente e controversa de sua carreira. A temática passa a ser mais intimista, envolvendo casos pessoais, e o som muda radicalmente. O Gothic/Doom Metal tocado pelos músicos é até hoje um símbolo do estilo, recebendo elogios dos ouvintes.

Após 18 anos de carreira, o falecimento repentino de Steele culminou no encerramento da banda, que deixou duas coletâneas, uma série de singles e sete fulls, esses que serão comentados a seguir:

Slow, Deep and Hard (1991)



Ainda carregando traços da sonoridade do Carnivore, o debut da banda tem uma temática totalmente íntima: o término de um relacionamento de Peter. As letras foram todas compostas em uma única noite pelo vocal e falam desde a péssima experiência vivida até alusões à um sonho de vingança e ao suicídio, como na música Gravitational Constant: G = 6.67 x 10⁻⁸ cm⁻³ gm⁻¹ sec⁻²:

"Well I've got no more reason to live
And I've got no more love to give
Tonight's the night
I'll paint the town red
I'll put another hole through my head"

O disco é composto de canções bastante longas, arrastadas e com claros elementos de Doom, o ritmo e a velocidade vão constantemente variando ao longo das faixas, reservando surpresas para quem somente ouve falar da banda. O disco recebeu uma versão em vinil junto com a original e uma versão remasterizada, em 2009. Todas com a mesma capa, um close de um ato sexual retirado de uma revista.

Música para ouvir: Xero Tolerance, que inclui samples de Bach.

Recheado de humor negro, esse disco garantiu uma turnê europeia, onde as críticas começaram. Steele foi difamado por sua visão política, sendo acusado de dar suporte ao Nazismo. Levando-se em conta seu passado familiar e a presença de um judeu e amigo de infância na banda, os rumores sobre seus ideais foram fortemente negados e atribuídos à uma má interpretação do sarcasmo contido em suas músicas.

The Origin of the Feces (1992)

A origem das fezes, um cu. Bem poético, não?

O segundo disco dos americanos aparece com uma inovação: as músicas foram gravadas como se fosse um disco ao vivo, porém foi totalmente produzido em estúdio. A turnê anterior garantiu uma série de gravações ofensivas à banda que foram aproveitadas para essa composição, que recebeu o subtítulo Not Live at Brighton Beach (que fica no Brooklyn, cidade natal dos músicos). Essa manipulação foi usada como uma resposta às críticas recebidas no ano anterior.

E a capa alternativa, sem o cu.

A sonoridade é ainda bem próxima do anterior, sem grandes inovações, mas com algumas canções mais curtas. Liricamente é gêmeo do debut, acrescido de muito humor negro. Além disso, o álbum tem um cover de Billy Roberts em Hey Pete e há uma faixa bônus, um cover de Paranoid. A capa do disco é bem controversa e, por esse motivo, uma capa alternativa foi lançada em 1994, sendo também utilizada na versão remasterizada de 1997.

Música para ouvir: I Know You're Fucking Someone Else

Bloody Kisses (1993)


Símbolo de mudanças, o terceiro disco da banda é o primeiro a evidenciar o lado gótico que é tão elogiado pela crítica. A sonoridade ganhou uma maior influência do teclado, assim como de backing vocals, ambos magistralmente realizados por Josh Silver. Tematicamente também houveram mudanças, entra o romance no lugar do suicídio e o sexo toma o posto da vingança. A morte e o sarcasmo continuam presentes nas letras, que fazem referência à cultura gótica. Os músicos continuaram sua campanha contra os rumores de ideologia racista através das músicas We Hate Everyone e Kill All the White People, a última com uma letra totalmente direta:

"Kill all the white people
Then we'll be free "

O álbum também conta com um cover, dessa vez de Summer Breeze, e, diferente dos outros discos, tem um número elevado de músicas. Com um total de sete versões lançadas, Bloody Kisses tem duas capas distintas, quatro tracklists e lançamentos em disco único e duplo. Também é o primeiro lançamento da Roadrunner Records a alcançar o status e Disco de Ouro e Platina.

Música para ouvir: Christian Woman

Em 1994, o baterista Sal Abruscato deixa a banda e é substituído por Johnny Kelly.

October Rust (1996)


Mantendo a força lírica construída nos outros discos, o quarto álbum da banda mergulha ainda mais no Gothic/Doom e finalmente se liberta da identidade dúbia entre as bandas de Peter Steele. A temática ainda se aproxima de seu predecessor, mas também mostra um lado político do cantor. The Glorious Liberation of the People's Technocratic Republic of Vinnland by the Combined Forces of the United Territories of Europa é uma faixa instrumental baseada na ideologia político-social de Steele, retratando Vinnland, a designação nórdica para a América do Norte, que seria uma espécie de nação perfeita aos olhos de Peter. O vocalista chegou a desenhar uma bandeira para essa nação, com base na bandeira da Noruega.



Apesar desse retorno às temáticas controversas da banda, temos outras canções que relatam experiências pessoais, como My Girlfriend's Girlfriend contando a história de um ménage à trois e Red Water (Christmas Mourning), que trata sobre a morte do pai do frontman.

O cover da vez é de Cinnamon Girl, originalmente tocada por Neil Young.

Música para ouvir: Love You to Death, dedicada à uma ex-namorada do vocalista.

Nesse período, Peter Steele lidava com problemas pessoais e passou por maus bocados. Seu vício em drogas se intensificou e chegou a atrapalhar parte da produção do álbum seguinte.

World Coming Down (1999)


Esse período obscuro foi marcado nas faixas do novo álbum. O clima é mais sombrio, bem voltado ao Doom, e as letras acompanham a ambientação. A aura de pessimismo domina a obra, tendo ápices em Everyone I Love is Dead e Everything Dies, ambas as faixas retratando a morte de pessoas queridas.

Durante essa época, Peter também passou por um tratamento psiquiátrico, que é retratado ao longo das músicas, que foram um grande tabu para o músico durante algum tempo. Durante a turnê de divulgação do disco, poucas músicas do mesmo entraram nos setlists, pois causavam um stress emocional prejudicial ao cantor.

A última faixa, Day Tripper, é um medley composto por três músicas dos Beatles.

Música para ouvir: World Coming Down

Life Is Killing Me (2003)


Se as letras ainda mantém o lado pessimista e de péssimo humor do álbum de 1999, a sonoridade sofreu grandes alterações. Mais melódico, voltando a incorporar traços góticos e com uma levada bem próxima do início da carreira, só que mais limpa.

Novamente há uma canção falando sobre o pai de Peter, Todd's Ship Gods (Above All Things), e há outra sobre sua mãe, Nettie. Diz-se que o nome IYDKMIGTHTKY (Gimme That) é um acrônimo para “If You Don't Kill Me I'm Going To Have To Kill You”, frase repetida algumas vezes ao longo dos mais de seis minutos de música.

A edição limitada conta um disco bônus e outras sete músicas:

1. Out of the Fire (Kane's Theme)
2. Christian Woman (butt-kissing, $ell-out version)
3. Suspended in Dusk
4. Blood & Fire (Out of the Ashes mix)
5. Black Sabbath (From the Satanic Perspective)
6. Cinnamon Girl (extended depression mix)
7. Haunted (per version)

Música para ouvir: I Don't Wanna Be Me


Em Maio de 2005, o site oficial da banda foi atualizado com uma lápide contendo o nome de Steele e sua data de falecimento, 14/05/2005. Algum tempo depois, espalhou-se a notícia de que era somente uma piada, reforçando o humor ácido da banda. Em 2006, a explicação veio à tona: Peter sofria de paranoia causada pelo contínuo uso de álcool e cocaína, as vezes aliados à outras drogas, e passou um tempo internado em uma clínica de reabilitação.

Dead Again (2007)


Sétimo e último disco da banda, tem como figura principal da capa Rasputin, ídolo de Peter Steele. A sonoridade apresenta novas mudanças, se aproximando ainda mais das influências do início da carreira, as letras também são menos melancólicas, apesar da temática das drogas ainda ser bastante presente. A canção Halloween in Heaven é uma homenagem a vários músicos que serviram de inspiração para a banda.

A edição limitada tem uma versão vermelha da capa original e conta com um disco ao vivo:



1. Everything Dies/My Girlfriends Girlfriend
2. Are You Afraid?/Gravitational Constant
3. Christian Woman
4. Love You to Death
5. Black No.1

Música para ouvir: She Burned Me Down

Sua paranoia, aliada a depressão que o acompanhou por boa parte da vida, levaram-no a repensar seu valores fortemente defendidos dentro e fora do palco. Encarando a possibilidade de morte de frente, em 2007, Peter resolveu assimilar sua religião familiar, buscando um ponto de apoio para enfrentar os problemas seguintes e encarar o que viesse, segundo ele próprio. Em 2010, durante a fase de composição de novos trabalhos, Steele morreu devido a problemas cardíacos. A notícia foi encarada como uma nova piada pelos fãs, até o pronunciamento oficial de que a banda encerrava as atividades.

Álbum para começar: Bloody Kisses
Álbum pra deixar por último: Dead Again

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Por Alexandre Romansine
Type O Negative - Discografia comentada Type O Negative - Discografia comentada Reviewed by Alexandre on 10:16 Rating: 5

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