A digitalização da música

"We're not going to stop making music, but the album format as such, this is the last thing from us…"

Foi a partir dessa frase na página oficial do Röyksopp no Facebook que cheguei até um link no site da banda explicando de uma forma um tanto insatisfatória o que já esperávamos: o fim da mídia física.

Você pode não reconhecê-los pelo nome, mas provavelmente conhece algumas de suas músicas, como What Else Is There?. Os noruegueses não esclareceram muito bem a notícia, mas o fato é que eles não mais irão fazer álbuns de estúdio, mas passarão a lançar músicas avulsas ou EPs e Singles quando lhes convier. Aqui abro um parêntese para tornar a discussão mais abrangente: ignorando o fato de que esse sistema de lançamentos ainda pode funcionar com discos físicos, é de se esperar que o foco seja a mídia digital.

Röyksopp: a dupla norueguesa em uma apresentação em 2009.

Tendo isso em mente, desde a popularização do mp3 isso é discutido. Todo o processo de criar uma arte para o disco, material que pode ser facilmente danificado, é caro e vem perdendo espaço para os downloads, legal ou ilegalmente. Os pontos positivos são bastante óbvios, menos espaço ocupado em estantes, praticidade para compartilhar e escolher arquivos para os mais diversos fins (desde passá-los para um celular ou montar uma playlist no computador), menores chances de perder as músicas por danos no disco, entre outros. Do lado negativo, o som é diferente, principalmente quando falamos de um LP, encartes digitais não são tão legais, colecionadores perdem parte de suas obras para exibir e, não menos importante, há um grande impacto no mercado. Financeiramente, essa perda é muito grande e há uma preocupação gigantesca com relação a esse mercado consumidor.

As gravadoras ainda conseguiriam se sustentar num modelo de distribuição 100% digital, as bandas ainda precisariam de todo o processo de gravação e mixagem e as etapas de produção teriam um calendário mais flexível, em teoria. Porém o impacto disso na parte da distribuição e criação de materiais (vinis, discos, fitas, etc.) colocaria toda uma indústria especializada no lixo. Não que os profissionais estariam fadados ao desemprego direto, uma parte seria redirecionada para outros setores industriais com qualidades semelhantes, enquanto outros tantos procurariam algo mais a fazer na vida. A questão é, o mercado está preparado para isso?

Amazon, iTunes, Bandcamp, o número de empresas e sites que trabalham com venda de materiais pela internet só cresce e parece ter um bom feedback dos usuários, tornando a resposta positiva. Entretanto, a parcela mais conservadora dos consumidores e lojas especializadas dão resposta negativa. No Brasil temos uma cultura abrangente em torno de downloads e do acúmulo de materiais digitais em qualquer estilo musical que olharmos, por outro lado, o número de colecionadores e apreciadores dos CDs e LPs não é pequeno e esses consumidores compõem uma parcela significativa dos lucros no meio musical, em comparação com shows, venda de acessórios e camisetas, por exemplo.

Baratos e Afins, uma das lojas mais tradicionais de São Paulo, com mais de 30 anos de história.

Enquanto não temos uma definição do que pode acontecer e nenhum rumo torna-se óbvio, continuamos especulando sobre o futuro das nossas estantes e HDs. O importante para o consumidor final é que a boa música não pare de chegar, independente do formato, e isso parece estar garantido.

Por Alexandre Romansine
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