Dynfari - Vegferð Tímans (2015)



A Islândia é um lugar isolado. Uma ilha próxima à Europa, cercada por um mar frio e dominada por um clima pouco convidativo, prendendo seus habitantes numa realidade bem específica de solidão. Essas características talvez expliquem a quantidade de bandas formadas por lá que fazem um tipo de música de rara beleza.

Faixas que nos passam uma sensação de desesperança, de dor física, coexistem com verdadeiros hinos de liberdade e sonhos realizados. As canções do Dynfari se encaixam em ambos os grupos, e ultrapassam qualquer expectativa que você possa ter.

Em um dialeto arcaico local, dynfari significa, literalmente, "aquele que possui um som estrondoso" e era utilizado como referência para tempestades ou ventos fortes.

Casas construídas dentro da terra fornecem uma proteção extra contra o frio, mas intensificam o isolamento.

Vegferð Tímans é um álbum que conta uma história curta, porém complexa. Traduzido como "marcha do tempo", o disco faz referência a um homem que está fazendo sua jornada derradeira em direção ao vazio, unindo-se ao cosmo primordial e tornando-se uma estrela no céu. A morte o aguarda, sem chance de escapatória.

Composto de oito músicas, o lançamento nos faz atravessar uma série de reflexões e provoca sensações das mais variadas, em especial a desesperança, o vazio e a frieza de enfrentar o desconhecido. O Ambient Black Metal executado pelos músicos flerta bastante com o Post Metal, realizando incursões melódicas e acústicas por outras facetas do metal negro.

Ljósið introduz a obra de forma lenta e bem tradicional para o Atmospheric BM. Aos poucos a faixa vai ganhando corpo e seus elementos lentos e cadenciados tomam conta, mesclando agressividade e uma leve dose de melodia. Na sequência, Óreiða já soa mais violenta, progressiva e desesperadora, com toques mais ou menos claros de DSBM.

As próximas três faixas voltam ao Ambient de base e mostram que há espaço para o Post na sonoridade, possuindo semelhanças pontuais com o álbum Les Voyages de L'âme, do Alcest, em especial na música Hafsjór. É nesse ponto do disco que a dualidade entre esperança e derrota se torna mais evidente, por exemplo, nas transições de um instrumental rápido para um acústico e na variação de vocais que acompanha essa mudança.

Jón Emil e Jóhann Örn, as mentes por trás da banda.

A apresentação do conceito do disco se faz como uma espécie de viagem pela mente do moribundo, revelando seus medos, sua história e suas aflições ao enfrentar a morte. Somando isso ao fato de que tudo foi composto por dois jovens de vinte e poucos anos, vivendo num país onde o isolamento é algo comum, a aura que o disco possui é de puro intimismo, do resultado da reflexão pessoal de uma filosofia de vida, temática muito mais presente em grupos de DSBM.

Encerrando o álbum temos a sequência de três faixas sob o “título” Vegferð: Ab Terra, Ad Astra e Myrkrið ("da terra", "para o céu" e "escuridão", numa tradução aproximada). A morte se aproxima e a sonoridade vai se tornando arrastada, com backing vocals mais presentes e cada vez mais opressivos, jogando uma mortalha que abafa qualquer tentativa de escape. As passagens acústicas se tornam mais límpidas, como uma estrada se revelando na escuridão, literalmente um caminho pelo tempo que ainda resta, uma jornada para o inexistente.

Nem por isso o som se torna menos agressivo. A luta pela vida é representada de maneira bastante presente ao longo das faixas, que exalam sofrimento e dor.


Essa "trilogia" ocupa a última meia hora do disco e pode ser considerada como um capítulo à parte na história. É o trecho de maior beleza e maior liberdade nas composições em todo o trabalho, trilhando um caminho tão próximo do Post-Black Metal que é quase impossível distingui-los. As melodias se fazem mais presentes, a agressividade divide espaço com a calmaria como em nenhum momento anterior, e não há encerramento melhor para a “vida” do que esse questionamento e a dúvida sobre o que virá a seguir. Gostaria muito de conseguir as letras para poder interpretar melhor o conceito e conseguir absorver totalmente esse trabalho, que é uma das melhores coisas que ouvi no estilo nos últimos anos.

Lançado pela Code666 Records, label responsável pelos discos do Fen e do Hail Spirit Noir, Vegferð Tímans possui algumas participações especiais de peso e o responsável pela capa é ninguém menos que Metastazis, artista que fez algumas capas para o Alcest, Blut Aus Nord, Paradise Lost e Ulver.

Nota: 10

Alguns dos outros trabalhos do Metastazis. Behemoth, Nachtmystium e Oprhaned Land, na sequência.

Toda a discografia da banda está disponível no Bandcamp oficial e vale toda a atenção possível. É raro encontrar músicos com tamanha sensibilidade e habilidade para inserir tão bem suas ideias nas canções e essa dupla realiza esse feito de maneira sublime.

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Por Alexandre Romansine
Dynfari - Vegferð Tímans (2015) Dynfari - Vegferð Tímans (2015) Reviewed by Alexandre on 18:02 Rating: 5

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