Volbeat - Discografia comentada

Em 1991, na Dinamarca, nascia o Dominus. Fazendo uma mistura de Death Rock/Metal e Groove, lançaram quatro discos até a separação dos músicos em 2001. Dessa separação nasceu o Volbeat, uma banda que começou tocando um Heavy/Groove Metal com uma gigantesca influência de Rockabilly no som.



Mais de dez anos depois, os caras contam com cinco álbuns de estúdio e uma coleção de ritmos e estilos de dar inveja. O som é simples, nos remete a bandas que tocaram entre os anos 50 e 90, dependendo do álbum, e carismático. Com letras muito bem compostas e, geralmente, contando uma história em si, o Volbeat nos mostra uma salada sonora de Elvis Presley, Johnny Cash e, quem diria, Danzig, tudo isso personificado em seu vocalista, Michael Poulsen. O único pecado cometido pelo vocal é a omissão de certas palavras nas canções, tornando o acompanhamento um tanto difícil em alguns momentos. Apesar disso, as quebras de ritmo e os tempos diferenciados do instrumental deixam o poderoso vocal em evidência e essa é uma das marcas principais da banda.

Mantendo a linha das últimas discografias, vou comentar os fulls isoladamente:

The Strength / The Sound / The Songs (2005)


O debut da banda demorou para ser lançado, mas a espera compensou muito! As faixas são claramente divididas: as oito primeiras são mais leves, com doses mais intensas de Rockabilly e trazem um conforto maior para o ouvinte. As sete seguintes focam mais em um som grooveado, sem deixar o ritmo cinquentista de lado. Infelizmente, essa cisão faz com que a audição seja um pouco estranha e a ordem das músicas poderia ser melhor aproveitada de outra forma, por exemplo mantendo a primeira música, Caroline Leaving (Caroline part Two), em algum ponto após a Caroline #1 ou a FireSong (Danny and Lucy revisited) após a Danny and Lucy (11 pm), e não antes, como aparece no disco.

Discussões de fã à parte, as músicas mostram um gigantesco trabalho das guitarras, mas deixam a bateria pouco relevante para o conjunto. Esse "problema" é corrigido posteriormente na discografia, mas o trabalho do baterista, Jon Larsen, fica de certa forma prejudicado aqui. O que compensa essa falha é o intenso ritmo, evidenciado pela curiosa recorrência das músicas terminarem num ápice ou em um momento bem agitado, diferente do que vemos em outras bandas de Heavy e do que a banda mostra no resto da carreira.

Os destaques ficam para: Another Day, Another Way, I Only Wanna Be with You (cover de Dusty Springfield) e Healing Subconciously.

Uma curiosidade aqui é que algumas músicas tem ligações com outras canções de outros discos, como por exemplo a já citada "Danny and Lucy", que conta a história de um trágico romance entre uma adolescente de 16 anos e um rapaz de 28, sob desaprovação pela família. Ela foge com o namorado deixando uma carta para os pais e, na letra, notamos o seguinte trecho:

Dear mr. and mrs. Ness
I’m sorry to bring you this
We believe we found your girl
In an old burning car way of the hill

Como eu disse, trágico, mas esse ponto terá uma ligação futura. As letras são todas falando sobre emoções e sentimentos, em especial o amor, e recomendo muito que escutem o disco acompanhando as letras.

Música para ouvir: Always, Wu. O "Wu" no nome significa "with you".

Rock the Rebel / Metal the Devil (2007)


Já citado pelo Rodrigo aqui, o segundo disco começa exatamente como o final do anterior, agitado, porém notamos um peso ligeiramente menor aqui. A bateria ganha o destaque devido, compensando a falta sentida no álbum de 2005.

Com um novo ânimo, os músicos trazem várias "baladas enérgicas" para esse trabalho, que é mais dançante em músicas como A Moment Forever e mais agitado em outras como A Garden's Tale, que é a única da banda que traz trechos em sua língua natal. Além desses dois destaques, temos também a Soulweeper #2, que faz referência à Soulweeper do primeiro álbum.

Continuando com as referências, Mr. and Mrs. Ness nos traz mais um capítulo da história da família de Lucy, novamente com um fim trágico:

Lucy dear your mother just ended herself, she's on the way
Tell her that i love but don't forgive the thing she did

Depois de perder a filha, o Sr. Ness acaba sendo encontrado com uma arma na mão, em frente de sua esposa, que está sob uma poça de sangue. O trecho acima, na perspectiva do personagem, indica que a Sra. Ness se matou por não aguentar a perda da filha, mas não há uma conclusão para essa história ainda.

Melhor organizado que o primeiro, esse álbum também fez mais sucesso, apesar da banda permanecer no underground quando foi lançado.

Música para ouvir: The Human Instrument

Guitar Gangsters & Cadillac Blood (2009)


Com uma sonoridade mais coesa, medindo a velocidade das músicas na medida certa e sem pesar no groove, os músicos realmente abraçaram o Rockabilly e diluíram tão bem o estilo nas composições que ele não conta mais como uma influência, e sim como uma nova forma de fazer o Heavy Metal.

Após nove anos de carreira, a banda teve uma porta aberta para o mainstream e esse disco alavancou a carreira dos músicos, que teve mudanças marcantes daqui pra frente. Começando a se distanciar das temáticas sentimentais, o terceiro trabalho dos caras mostra uma liberdade um pouco maior nas composições e o início de um amadurecimento da banda como um todo.

Os destaques são Still Couting, I So Lonesome I Could Cry (cover de Hank Williams) e Making Believe (mais um cover, dessa vez de Jimmy Work). Além dessas, temos mais um episódio da trágica história da família Ness, na faixa Mary Ann's Place:

Side by side with Lucy´s stone
You two are forever missing colours in my home

Supostamente esse trecho mostra a visão do Sr. Ness, que se encontra em frente aos túmulos de sua filha (Lucy) e esposa (Mary Ann?). Deixado sozinho para cuidar de outros dois filhos menores, a música retrata o desespero de um homem sozinho, perdido e sem um objetivo que o faça seguir em frente.

Apesar do álbuns contar com grandes doses de sentimento, algumas letras mostram um lado mais rebelde e agradam pela agressividade "rocker", típica dos anos 80.

Música para ouvir: Hallelujah Goat

Beyond Hell / Above Heaven (2010)


Como o próprio nome sugere, o quarto álbum dos dinamarqueses tem uma temática bem específica, voltada para as relações entre a fé das pessoas e seu destino, seja ele o céu ou o inferno, como vemos em A Better Believer:

I’ll only make us dance beyond infernal fire
My place awaits its destiny for all time
Oh baby then and you will see
Your blood belongs to him or so he says

Agregando influências de Thrash Metal, Southern Rock e um leve toque de Hard Rock, é uma obra mais pesada, que aproveita a mudança e também apresenta uma parte lírica mais trabalhada, com composições melhores e mais detalhadas. O resultado dessa evolução é claramente notado nas músicas Heaven nor Hell, que tem uma participação de gaita pra lá de genial, e 7 Shots, que conta com banjo tipicamente sulista, Miland Petrozza (Kreator) nos vocais e Michael Denner (Mercyful Fate) na guitarra.

Há também outras participações, mas a de maior destaque é o vocal do Mark "Barney" Greenway (Napalm Death) na faixa Evelyn, que traz um belíssimo contraste entre o gutural do Mark e o vocal limpo do Michael. O disco também tem uma música dedicada aos fãs, Thanks, e a edição Digipack vem com um cover de Angelfuck, dos Misfits.
Além de tudo isso, a faixa 16 Dollars nos faz lembrar muito bem as origens da banda e merece o destaque aqui.

Música para ouvir: A Warrior's Call

Outlaw Gentlemen & Shady Ladies (2013)


O trabalho mais recente da banda mostra uma maior influência do Hard Rock no som e, finalmente, um ótimo aproveitamento de backing vocals. Resultado de um amadurecimento que começou a ser visto em 2009, aqui a banda parece um "novo Volbeat", com uma sonoridade bem distinta dos anteriores e um pouco mais comercial. Apesar da crítica, o som continua característico e o resultado é ótimo. As letras voltam a falar sobre amor em suas variadas formas, e uma prova disso é a Cape of Our Hero, que passa uma bela mensagem, mas só pode ser completamente entendida graças ao clipe que recebeu.

Nesse álbum também temos participações especiais, como os vocais de King Diamond na faixa Room 24 e da cantora Sarah Blackwood em The Lonesome Rider. Outros destaques são The Nameless One e Our Loved Ones.

Música para ouvir: The Sinner is You

A discografia é bastante variada e possui muitos pequenos pontos de interesse. Na matéria destaquei a "trilogia" da família Ness, mas em diferentes álbuns podemos encontrar as histórias de Caroline, Mr. Cadillac e outros personagens com menos destaque.
Não há prejuízos em ouvir as músicas soltas ou fora de ordem, mas recomendo que os álbuns sejam ouvidos na ordem em que foram lançados.

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Por Alexandre Romansine

Volbeat - Discografia comentada Volbeat - Discografia comentada Reviewed by Alexandre on 16:34 Rating: 5

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