Liberteer – Better To Die On Your Feet Than To Live On Your Kness (2012)

Liberteer tem todos os elementos necessários para ser uma boa banda de grindcore. Os urros assustadores, a sujeira, a levada rápida e incessante de bateria, a aspereza que afasta os ouvidos mais sensíveis. E além de tudo isso, tem um banjo. Sim, um banjo.

Matthews Wiedener é o multi-instrumentista responsável pela mistureba que é o som dessa one-man band estadunidense. O debut lançado esse ano, Better To Die On Your Feet Than To Live On Your Knees, não é exatamente um território inexplorado para o cara. Ele já foi baixista do Cretin e do Exhumed, só pra citar os nomes relativamente conhecidos de seu currículo. Entretanto, é pouco provável que alguém já tenha feito algo parecido com o que ele ousou fazer aqui.

 
Todo o álbum está mergulhado em forte temática anarquista, algo não muito raro nesse estilo tão politizado. O que realmente chama a atenção é a capacidade que o compositor teve para inserir elementos inusitados sem comprometer a coesão da obra.

A introdução, uma balada folk-marcial, dá a impressão de ter saído de um álbum do Falkenbach. Parece que se está prestes a ouvir um álbum de pagan black metal. É possível imaginar os coros, as referências à cultura viking, as músicas pretensiosas, melódicas e longas. Mas o que se segue é um ataque maciço de violência sonora.

Build No System, a primeira música do disco, segue a cartilha do grindcore por mais ou menos um minuto. Blast beats, distorção, riffs secos, alternando entre momentos de melodia mais acentuada e de pura agressão. E então, surpresa: elementos sinfônicos voltam a dar as caras e a barulheira cessa por alguns instantes. Depois de dez segundos de calmaria, ouve-se um rugido e a pancadaria retorna.
A primeira reação é o espanto. Será mesmo que Matthews vai brincar assim com um gênero que se caracteriza justamente pela crueza? Não dá pra dizer que esse trecho experimental não soou bem, mas é esquisito. É diferente.

As próximas faixas, porém, são bem normais. Seguem o manual passo a passo, arriscando no máximo uma variação rítmica perto do final. Class War Never Meant More Than It Does Now só destaca-se por um brevíssimo solo de baixo, de uns quatro segundos.

Na sexta faixa é que começa a revolução. Rise Like Lions After Slumber, com sua introdução no banjo e sua levada militar, decreta que a partir dali o pé que o Liberteer ainda cravava no convencional vai ser deixado pra trás.O álbum desemboca em uma série de faixas que contrastam brutalidade e trechos orquestrais, assemelhando-se a hinos bélicos. Usurious Epitaph, Sweat For Blood e I Am Spartacus são os exemplos mais claros disso.

O bandcamp oficial do Liberteer descreve sua sonoridade como um “mordaz anarcho-grind com passagens triunfais e riffs agitados, explodindo em um hino de guerra que defende nada além da anarquia total”. Exagero publicitário a parte, é uma definição precisa.

Better To Die On Your Feet Than To Live On Your Knees soa como uma Marselhesa do grindcore. É um convite ao ataque e a rebelião. Grandioso, empolgante e inovador, embora esbarre em momentos de pretensão exagerada. Tudo isso em menos de 30 minutos! Vale ouvir de uma sentada só: não é um álbum que possa ser compreendido se ouvido aos poucos. O que conta é o todo, que configura, realmente, um hino em honra da violência sonora.



Por Rodrigo Menegat
Liberteer – Better To Die On Your Feet Than To Live On Your Kness (2012) Liberteer – Better To Die On Your Feet Than To Live On Your Kness (2012) Reviewed by Alexandre on 21:09 Rating: 5

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